25 julho 2013

Ser Escritor

Ser escritor é...

...abrir mão de horas de sono e de lazer por conta de uma história que provavelmente ninguém irá ler ou compreender, mas que precisa escrever.

...contar os segundos através das piscadas do cursor no topo de uma página em branco do editor de textos.

...ter uma ideia para um texto genial poucos segundos antes de dormir, apenas para esquecer a ideia na manhã seguinte.

...ouvir constantemente pessoas perguntando “De onde você tira suas histórias?” e inventar uma mentira para não assumir que não sabe a resposta.

...ficar com uma ideia assombrando por dias, semanas, meses, e depois descobrir que escreveu uma coisa completamente diferente do que havia imaginado.

...perder a confiança no meio da história, se achar um idiota limitado, uma fraude, mas continuar mesmo assim.

...ser uma esponja de referências visuais, sensoriais, sinestésicas e o escambau, mas não conseguir escapar de lugares comuns e estereótipos quando necessário.

...se sentir um gênio quando termina um texto, e um asno após a primeira revisão.

...ficar com raiva e inveja pelo sucesso de "escritores medíocres", enquanto não consegue pagar nem a conta de luz do mês com os direitos autorais acumulados de um ano.

...ficar com vontade de ler enquanto está escrevendo e de escrever quando está lendo. E não fazer direito nenhum dos dois.

...cortar adjetivos e advérbios, pleonasmos e repetições, metáforas batidas, eufemismos obscuros, clichês e outras aberrações que não consegue evitar de escrever na primeira versão.

...reler um trecho que escreveu há anos e se perguntar se realmente escreveu aquilo.

...ouvir o dia inteiro que "essa história daria um livro" e refrear a vontade de responder que não, não daria.

...virar o revisor gramatical oficial da família e amigos, que subitamente têm medo de escrever até uma lista de compras perto de você.

...sofrer como um condenado por horas até encontrar a maneira correta de escrever uma ínfima frase, que provavelmente será descartada na primeira revisão.

...ver aquele texto que pesquisou por dias e demorou meses pra produzir ser completamente ignorado, enquanto aquela piada despretensiosa que escreveu no verso do saco de pão em cinco minutos ser enaltecida como uma obra de arte.

...ver essa mesma obra de arte não dar retorno financeiro nem pra comprar o pãozinho que veio no saco.

...passar o dia inteiro colecionando ideias de contos, apenas para vê-las desaparecer no momento que consegue separar um tempinho para escrever.

...perceber que escrever é um parto. E que todo parto é dolorido.

...escrever bêbado e revisar sóbrio.

...ganhar pouco, trabalhar muito e não ter o reconhecimento que (acredita que) merece.

...viver frustrado, desesperado, angustiado e endividado, mas não desistir nem por causa disso.

...escrever porque sim. Porque não consegue não escrever.


Parabéns a todos nós, escritores.

Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

Claro que não é fácil ser um escritor. Eu gosto de mudar meus pontos, eu não posso ficar sempre no mesmo lugar. Eu encontrei alguns restaurantes em itu que são muito tranquilos.