24 setembro 2008

Rascunhos Imponderados: Sexo


No final tudo se resume a sexo. Não tem jeito. Tudo o que fazemos, tudo o que almejamos, tudo o que realizamos é apenas para um único objetivo: transar.

Somos criaturas movimentadas a espasmos de orgasmo. Carreiras são construídas para que aumentemos nosso poder aquisitivo e, conseqüentemente, tenhamos condições de comprar carrões e artigos de ostentação com a meta de abrirmos o maior número de pernas possível. Saímos à noite com desculpas de amizade e socialização, mas o que queremos mesmo é encontrar alguém para bagunçar os lençóis com a gente. Olhamos em volta à procura de brechas nos vestuários que abram janelas às anatomias alheias. Puxamos conversa com completos desconhecidos como se estivéssemos apostando numa roleta, cujo prêmio virá em gemidos suarentos e trocas de secreções que em outra situação consideraríamos nojentas. Mas nunca são. Nunca, pois como já disse tudo no final se resume a sexo.

Esse papo de que buscamos parceiros, companheiros, etecétera e tal, é tudo asneira. Buscamos parceiros sexuais, potenciais procriadores e procriadoras. Receptáculos de nossa herança genética, mesmo que esta intenção tenha se deturpado ao ponto de que a prática é muito mais valorizada que a concepção propriamente dita. A humanidade é a única raça que faz sexo por prazer egoísta. Caso houvesse o mínimo risco de que a fêmea devorasse a cabeça do macho após o coito garanto que pensaríamos duas vezes antes de dar um tapa naquela gordinha que sobrou no final da festa. Se é para ser a última, que seja a melhor. Milhões morreriam virgens se seguíssemos este raciocínio, mas ao mesmo tempo daríamos saltos largos em termos de evolução.

Mas não é o caso. O caso é que transformamos o sexo de um mero ato reprodutório num objetivo dentro de si mesmo. A ironia disso tudo é que nos desesperamos quando conseguimos a fecundação. Ou seja, os humanos transformaram o fracasso em vitória e vice versa. É como um time que só comemora bolas na trave, apesar desta ser uma analogia potencialmente broxante. Está vendo? Pensamos em sexo até mesmo durante analogias futebolísticas. O tempo todo. Quer dizer, quase. O único momento que não pensamos em sexo é durante o ato. Pensamos em qualquer outra coisa, mas agora com o claro objetivo de estender o intercurso. Pensamos em coisas broxantes. Em contas a pagar. Em qualquer coisa menos no que estamos fazendo naquele exato momento. Até o dia que percebemos que nem isso é o suficiente. Aí descobrimos que a única maneira de adiar o êxtase é não só pensar em sexo, mas extrapolar o raciocínio. Racionalizar o fato de pensarmos em sexo.

- Hein?

- Nada não. Continua que está gostoso.

E não é que dá certo?

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Rascunhos Imponderados é o nome que dei a uma série de exercícios que imponho a mim mesmo de modo a superar bloqueios e manter a "máquina" lubrificada. É assim: alguém me passa um tema qualquer. Uma palavra, uma idéia, qualquer coisa. Dou-me quinze minutos para elaborar o que vou escrever e então uma hora no máximo para escrever um texto de até uma página A4. A maioria é impublicável, mas de vez em quando surgem pérolas como esta aí em cima, que divido com vocês. O tema foi sugerido por Lucimara Paiva, o que, sem sombra de dúvidas, ajudou muito na inspiração. Um beijo enorme, Lu.

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