17 outubro 2007

Esboço de História

João virou Juan, para o espanto de toda a turma da rua. Naturalizou-se argentino. Justo o João, o melhor goleiro da rua? Não era possível.

Culpa do pai, que fora transferido. Claro que isso não pressupunha uma naturalização. Por isso a surpresa de todos. Justo o João, que era o que mais xingava os hermanos nos Brasil contra Argentina?

Mas as surpresas não pararam aí. João, agora Juan, em pouco tempo se profissionalizou. E em futebol. Era destaque nas categorias de base. Quando ele estava no gol nada conseguia passar. Tinha os reflexos de um leopardo. Um goleiraço. Em pouco tempo já era o goleiro titular do Boca Juniors. Do Boca! Justo o João, sãopaulino roxo?

E ficou pior. Jo... Juan foi convocado para a seleção argentina. Alguns amistosos depois e seu nome já era dito com temor pelas ruas. Traidor. Vira-casacas. Desgraçado. Precisava ser tão bom? Tinha que ser brasileiro mesmo...

Juan arrepia nas eliminatórias. Graças a ele a Argentina se classifica com a defesa menos vazada da história. Vão para a Copa. Favoritíssimos.

Primeira fase invicta. E sem gols. Aproveitamento total. Oitavas, quartas idem. Goleiam na semifinal. Juan está na final. E contra o Brasil.

Suspense absoluto. Justo o João, pô?

O jogo é acirrado. Ambas as equipes jogam como nunca. É uma partida histórica. De ambos os lados. Tanto que termina empatada. Sem gols.

A batalha continua na prorrogação. Juan faz duas defesas magníficas. Bolas praticamente indefensáveis. Desgraçado. Vira-casacas. Traidor.

O pior pesadelo então se concretiza. Pênaltis.

Juan defende dois. Os argentinos desperdiçam outros dois. Juan não consegue defender um, mas felizmente para ele seu atacante não havia decepcionado antes. Mas o outro erra. Feio. Juan defende mais um, quase sem querer. Cai de forma estranha. Parece machucado. Argentinos de cabelo em pé (o que deve se assemelhar a uma floresta de pinheiros sujos de piche). Toma essa, João! Traidor! Quatro pênaltis batidos por cada equipe, mas o empate persiste. Os brasileiros deliram quando seu goleiro, tão desacreditado, tão humilhado pela mídia, defende o quinto pênalti. Está nas mãos de Juan agora. Se ele defender a Argentina terá mais uma chance. Se não...

Ele não defende.

Aliás foi um frango tão medonho que o video virou em poucas horas o viral mais assistido da internet. Humilhante. Uma bola que até minha avó esclerosada e com parkinson pegaria. A Argentina perde a final. E para o Brasil.

Mas logo em seguida a multidão se espanta. Juan se ergue com um imenso sorriso no rosto. Lágrimas escorrem de sua face. As mãos cerradas são erguidas sobre a cabeça. Ele corre em direção aos brasileiros. Comemora junto com eles o campeonato. É o que mais grita, o que mais chora. Não recebe medalha, mas consegue beijar a taça. E dar a volta olímpica. Juan era João novamente.

E havia conseguido.

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