25 outubro 2006

Sobre escrever (parte 3)

É difícil. Sério. Não acredite se disserem o contrário. Estou há algumas semanas ensaiando o retorno à ultima parte de meu romance (é o terceiro), mas algo me segura. Pode ser bloqueio? Pode, mas bloqueio por que? Tempo eu não tenho, mas isso eu nunca tive, e mesmo assim consegui escrever dois romances e muito, além dos contos para o Necrópole, os pôstes ocasionais do Psicopata Enrustido, alguns contos experimentais, antelóquios, etecétera. Quando se tem inspiração o tempo aparece. Abdicamos do sono, das necessidades básicas, negligenciamos a família, a saúde, o escambau. Mas o texto sai.

Hoje mesmo escrevi uma crônica logo de manhã cedo, assim que cheguei ao escritório. Ficou muito boa, na minha humilde opinião, mesmo ela tendo sido escrita ainda sob o efeito das remelas do sono. Estou tentando vê-la publicada em algum lugar legal, mas se não conseguir coloco aqui mesmo.

O lance com o meu romance é simples: frustração. Estou frustrado, sim, confesso. A carreira está caminhando, os livros de que participo estão saindo, coisa e tal, mas as editoras teimam em ignorar meus romances. Se fosse uma recusa, beleza. Dá raiva, mas raiva é bom. Dá força. O problema é ser ignorado. Frustração exaure, suga energia criativa. É foda. Como trabalhar no terceiro romance se o primeiro ainda não saiu do hangar?

Mas daí eu vou e me deparo com um blogue legal, A Pequena Morte, da Claudia Lage. Lá ela brinca com o processo criativo de uma maneira bastante inteligente. Dá gosto de ler. Dá vontade de escrever. E lá tem um pôste muito interessante, intitulado "Vinte e uma coisas que aprendi como escritor", atribuído ao Moacyr Scliar (não verifiquei), que deixa a gente um pouco melhor. Não tanto quanto uma resposta de uma editora, mas já ajuda. Alguns exemplos (o resto você vê lá no blogue da Claudia, tá?):

APRENDI que escrever é basicamente contar histórias, e que os melhores livros de ficção que li eram aqueles que tinham uma história para contar.

APRENDI que uma boa idéia é realmente boa quando não nos abandona, quando nos persegue sem cessar. O grande teste para uma idéia é tentar se livrar dela. Se veio para ficar, se resiste ao sono, ao cansaço, ao cotidiano, é porque merece atenção.

APRENDI a não ter pressa de publicar. Já se ouviu falar de muitos escritores batendo aflitos, à porta de editores. O que é mais raro, muito mais raro, são os leitores batendo à porta do escritor.

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